Marcos Girão

Preferi deixar aqui as palavras que o Prof Dr. Manuel Bontempo, proferiu sobre mim a dias do que a minha autobiografia.

Há uma fuga ao figurativo, ao narrativo, nos últimos trabalhos deste artista rebelde a figurinos cristalizados, e em colagens num tempo sincopado e visual, mostra numa função didática, redutora a análise estética do absurdo tomado ato inteligente como se pode aceitar num exame a frio, no texto em si mesmo, que será uma nova concepção de cultura e uma crítica implícita ao mundo moderno ou a uma sociedade esfrangalhada. Pintura para pensar Certamente que sim! Há neste pintor carismático um foro íntimo em desenvolver em si mesmo as teorias que se projetam nas linhas, formas, conteúdos numa proclamação da liberdade de conceber, de ser inovador, mesmo que essa liberdade seja subjetiva mercê das leituras herméticas do pintor que faz a radicação científica da pintura com colagens que esmagam, tantas vezes, os princípios duma razão modelar, antes uma a razão absoluta, livre, a incentivar outras formas de ver, sentir a arte.

A linguagem de Marcos Girão eclética que partiu do clássico de pouca duração para se mover ao abstrato, no surrealismo, no fauvismo, rever a sua linguística pinturial num tipo irreverente, inédito, por vezes, onde cabe as impressões de análise da psicanálise, da sociologia, na interpretação dos seus quadros, melhor dos seus textos. Criador vigoroso, indolente, muitas vezes, usa na sua pintura as áreas estético literária com leituras de Miguel Torga, Fernando Pessoa, Byron e o próprio Kant na sua razão pura a incidir a literatura e a filosofia na arte, como fosse um contador de histórias quer na palavra fácil, quer no manejo dos pincéis que para uns tantos será um ficcionista da forma e para outro um nefelibata na anatómica dissecação da pintura e onde se escrevem os criadores bizarros. Marcos Girão é linear nos sentimentos, no nervo cultural, na ideia que faz da própria vida e isso revela-se nos seus quadros que são sempre um espécie do lado interior do seu ser ou uma evasão que procura deste mundo manchado pela torpeza.

Singular no entanto, este artista da área de Coimbra viajado, culto, (a viver hoje em Natal, RN Brasil), que não se encolhe nas transigências de figurino já feito, desgastantes, e solta-se com arte que será hoje bizarra e amanhã condizente com as normas do padrão grego romano. A sua pintura a despeito das colagens mais atrevidas ou esquizofrénicas (este termo é arbitrário), diagnostica a doença da época um classicismo ou academismo ultrapassado, chocho, para nos transmitir arte que faz pensar, discutir, e desperta a crítica de algumas insuficiências medíocres.


Flagela, insulta, emociona, comove, e traz uma reação ao tradicionalismo, aos copiadores, e encerra as fraquezas da realidade circundante, dum mundo virado ao avesso?Pintor com grande currículo, andante por tantos lugares e fronteiras, Marcos Girão, é um artista satírico mas cheio do sentido das proporções. E usa o equilíbrio da forma quando lhe apetece e revoluciona a mesma quando lhe dá na real gana. Pintor do temperamento de Miró, Chagall, Dali e outros fenómenos tipicamente possuídos pelo traumatismo das formas e dos conteúdos. Gostei de ver a pintura deste controverso artista de lhe ouvir as suas perplexidades filosóficas e o seu gosto pelos nossos escritores clássicos, assíduo leitor, e de toda a boa literatura estrangeira. A viver entre Natal no Brasil e Pereira a progressiva vila do distrito de Coimbra, onde tem outros comparsas na terra das queijadas, como Bráulio Figo, fulgurante ator num mundo realista e formalmente estético, e outros, num grande jogo dos carateres da pintura contemporânea. E os seus quadros continuam a ser privilégio de alguns, disputados, na sua criação onírica. Sobretudo, esses!

 

Prof Dr. Manuel Bontempo

14 de Novembro de 2009
registou-se na Bubok