Calendario 14 / Julho / 2015 Cantidad de comentario Sem comentários

Hoje conversamos com Carla Alexandra Gonçalves, professora da Universidade Aberta e autora do livro “Para uma Introdução à Sociologia da Arte”. Carla nos conta como foi sua experiência com a edição independente, quais foram os maiores desafios e porquê acredita que este novo modelo de edição pode ser a solução para obras acadêmicas especializadas, geralmente rejeitadas pelas editoras que priorizam resultados econômicos.

Carla Alexandra Gonçalves nasceu em Coimbra em 1968. Licenciada em História, variante de História da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra em 1992, foi-se especializando em escultura portuguesa do século XVI. No decurso dos trabalhos de Mestrado em História da Arte Moderna foi Bolseira da FCT e, em 2002, obteve o grau de Doutor pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, com a tese Os escultores e a escultura em Coimbra, uma viagem além do Renascimento. É docente na Universidade Aberta a exercer funções em Coimbra e membro do Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Património [da Universidade de Coimbra].


1. Quem é Carla Alexandra Gonçalves?

Esta pergunta é difícil, porque somos sempre tantas coisas que é difícil escolher, de entre elas, o que melhor nos define. Neste momento, sou Docente na Universidade Aberta portuguesa, investigadora no Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Património da Universidade de Coimbra (onde estudei até ao doutoramento), na linha de investigação chamada Grupo de Estudos Multidisciplinares em Arte. A minha formação foi toda feita em História da Arte e escolhi a escultura coimbrã do século XVI como âmbito de pesquisa durante o doutoramento.

 

2. Qual tem sido o seu percurso como escritora?

Não posso dizer-me escritora. Embora tenha dedicado à escrita grande parte do meu tempo desde que me conheço, por motivos presos com o prazer que daí advém, porque escrevendo me organizo, porque durante muitos anos (entre os 12 anos até ao nascimento do meu primeiro filho) mantive um diário onde registei tudo quanto pensei e tudo quanto vivi, porque memorizo escrevendo, porque não tenho medo das palavras escritas, porque me entendo melhor, não considero que todas estas redacções façam de mim uma escritora, antes uma escrevedora.

Quando publiquei o meu primeiro artigo no segundo ano da licenciatura em História, Variante de História da Arte senti um denso entusiasmo. Estava, pela primeira vez, a difundir dados novos sobre um escultor (e arquitecto) da região de Coimbra activo entre os séculos XVI e XVII e ainda mal conhecido (Thomé Velho). Fruto dessa mesma excitação fui-me dedicando à investigação e, consequentemente, à redacção. Mais tarde publiquei uma monografia dedicada a outro escultor português (desta vez a Gaspar Coelho) na Livros Horizonte e, daí para a frente, fui publicando sempre no âmbito das pesquisas que fui desenvolvendo. O Psicologia da Arte, editado pela Universidade Aberta em 2000, foi o resultado do trabalho que desenvolvi no âmbito da preparação de uma Unidade Curricular (na altura ainda se lhe chamava disciplina) nova em Portugal. A necessidade de construção de uma síntese escrita inteiramente em língua portuguesa impôs-me a publicação daquele título.

Porque os escritos de âmbito científico, académico e pedagógico possuem um carácter muito particular e obedecem a determinadas regras que, de uma forma ou de outra, acabam por não deixar espaço para outras expressões, fui-me diluindo por outras escritas, ou por outros modos de dizer e por outros veios, invadindo territórios poéticos que mantenho a sete chaves, para além duma incursão numa Antologia publicada pela Chiado Editora em 2014.

 

3. Fale-nos um pouco do seu livro e o que a levou a escrevê-lo.

O Para uma Introdução à Sociologia da Arte proveio da minha actividade como docente na Universidade Aberta e de um ímpeto pessoal muito forte. As particularidades do ensino-aprendizagem em ambiente digital determinam a produção de materiais pedagógicos actualizados e dissemináveis. Juntando a esta conjuntura a intenção de dar a conhecer a todos os interessados, uma síntese sobre os assuntos referentes à área do saber em aferição, dediquei-me à redacção do volume, com intuitos pedagógicos e de divulgação.

 

4. A que tipo de leitor está dirigida a obra?

O livro dirige-se, fundamentalmente, aos estudantes do ensino superior mas também, e muito naturalmente, a todos quantos dão os primeiros passos nesta área do saber que conhece poucas obras escritas em português com esta intenção de divulgação.

 

5. Por que decidiu publicar este livro com a Bubok?

A escolha da Bubok não foi difícil. Na verdade, o facto de a Bubok permitir a edição de livros em formato scripto e no formato digital (e-book) foi muito determinante, por possibilitar estender o volume às várias geografias possíveis. Saber que o público não necessita de sair de casa, independentemente do continente onde se encontre, para aceder ao livro, é muito sedutor.

À partida, os livros que provêm de dissertações e de teses doutorais não são escritos para o grande público, mas antes para uma camada acanhada e especializada de leitores, facto que tem afastado as editoras deste género de publicações. Quando o valor económico se sobrepõe às razões presas com a divulgação científica e com a difusão de conhecimento não há espaço editorial.

6. O que foi o melhor e o pior da experiência de publicar como autora independente?

O melhor desta experiência é a liberdade que isso nos dá e a rapidez do processo. Posso escrever em língua portuguesa pré-acordo ortográfico, posso escolher os conteúdos que me interessam, posso usar o modo de referenciação bibliográfica com o qual me identifico, etc. e o livro publica-se quase instantaneamente, porque não é filtrado pelos processos editoriais tradicionais.

O pior desta experiência relaciona-se com a última etapa do procedimento, ou quando tenho de escolher a mancha gráfica, ou a capa, ou as dimensões do volume (ou tudo quanto concerne à paginação do escrito)… porque, na realidade, não é um trabalho com o qual conviva bem. Por outro lado, e esse é um problema que cruza todo o horizonte editorial, a publicação de um livro como autora independente não me permite editar imagens (quer as que possuem direitos autorais, quer as que não os possuam) com a qualidade que seria desejável, facto altamente limitativo para determinadas áreas de trabalho.

 

7. Você acha que falta espaço no mercado editorial para obras mais académicas?

Em Portugal talvez.

O mercado editorial académico tem de ser lido nas suas duas vertentes: a da publicação de obras com carácter pedagógico e a da publicação de obras de cariz académico (teses e dissertações, bem como artigos académicos e científicos).

Relativamente às publicações pedagógicas, e se pensarmos que o mercado livreiro é mediado pelas distribuidoras que nem sempre funcionam bem, e na problemática relacionada com a política editorial das próprias universidades, que ainda não é muito clara no que concerne à sua própria região editorial e de distribuição, há pouco espaço para a publicação deste género de obras.

Quanto à edição de teses e de dissertações, o problema é ainda mais grave. À partida, os livros que provêm de dissertações e de teses doutorais não são escritos para o grande público, mas antes para uma camada acanhada e especializada de leitores, facto que tem afastado as editoras deste género de publicações. Quando o valor económico se sobrepõe às razões presas com a divulgação científica e com a difusão de conhecimento não há espaço editorial. São as ciências humanas e sociais as que mais sofrem nesta conjuntura de desinvestimento e de desinteresse. Ainda assim, há áreas (como as que se relacionam com as ciências jurídicas, por exemplo) que merecem destaques editoriais, também por haver editoras especializadas em determinadas zonas do saber que se mantêm activas, publicando.

 

8. Você recomendaria a edição independente a outros autores da área?

Recomendaria e recomendo! Apesar de vivermos hoje num mundo governado pelas sistemáticas avaliações de desempenho que impõem aos docentes universitários o investimento nas publicações revistas e avaliadas por pares, e a edição independente de um livro não valer o mesmo que uma publicação numa revista de referência internacional (por exemplo), a auto-publicação é extremamente gratificante pela divulgação que a obra consegue e pelos (novos) públicos que atinge.

 

9. Já leu algum livro de um autor independente?

Decerto que sim!

 


Para uma Introdução à Sociologia da Arte

Carla Alexandra Gonçalves

Nº de páginas: 134
Tamanho: 210×297
Encadernação: Rústica
ISBN: 978-84-9916-591-2

Adquira um exemplar na Bubok Portugal ou Bubok Brasil.

Este  livro pretende dar a conhecer os rudimentos de uma área do conhecimento que ainda não mereceu uma síntese que lhe dê corpo, e nasceu da necessidade de reunir, num só volume com intenções pedagógicas e de divulgação, uma sequência de pensamentos que enformam uma possibilidade de introdução à Sociologia da Arte. Neste sentido, intenta-se demonstrar, com esta síntese, que a Sociologia da Arte não é uma espécie de Sociologia Geral com algumas particularidades, mas antes um corpo autónomo de estudos que serve uma multiplicidade de zonas do saber em Ciências Sociais e Humanas, e com densa aplicabilidade no terreno da História da Arte, da crítica da Arte e da Estética.


Gostaria de publicar sua obra académica ou de ficcção com a Bubok? Envie um email para [email protected] e nós entraremos em contato com você para ajudá-lo a tornar seu projeto realidade.

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