Calendario 17 / Junho / 2015 Cantidad de comentario Sem comentários

Hoje entrevistamos a Tsering Paldron, autora de “O hábito da felicidade”, um das obras mais buscadas da Bubok em Portugal nos últimos meses. O livro é um projeto pessoal de Tsering, que havia publicado com outras editoras antes mas que esta vez decidiu apostar pela publicação independente. A escritora explica que “ainda existe a ideia de que os autores que se autopublicam não tem qualidade suficiente para que alguma editora os aceite. ” e que é importante desmentir essa ideia “apresentando um trabalho de qualidade a todos os níveis.”

Tsering é muito ativa nas redes sociais, possui um blog e colabora com a página web sobre budismo e-Darmha. Sua experiência com a edição independente foi um grande aprendizado e ao final da entrevista ela dá conselhos valiosos àqueles autores que pretendem editar e publicar seus próprios livros.

O “Hábito da felicidade” foi lançado na Bubok Portugal em abril deste ano e a partir de junho também estará a venda na livraria da Bubok Brasil.

1. Quem é Tsering Paldron?

Era muito nova quando me apercebi de que não tinha queda para ser feliz. Embora fosse ainda uma miúda, já me apercebera de que a felicidade não dependia tanto dos fatores externos como nós pensamos. Afinal, mesmo aqueles a quem aparentemente nada faltava, não eram necessariamente felizes. Depois de alguma investigação concluí assim que, se não era feliz, era simplesmente por falta de jeito.

Penso que foi sobretudo a consciência aguda da impermanência e do facto de que nada era fiável ou duradouro que esteve na origem da minha crise existencial entre os 16 e os 19 anos e da minha procura ansiosa de algo que fizesse sentido. Recusava-me a aceitar que a vida pudesse ser apenas uma ladainha de dias e noites, uma sobrevivência morna, uma sucessão de imponderáveis à espera da única certeza: a morte. E que tudo o que fazemos fosse apenas uma forma, mais ou menos disfarçada, de passar o tempo…

Embora fosse ainda uma miúda, já me apercebera de que a felicidade não dependia tanto dos fatores externos como nós pensamos. Afinal, mesmo aqueles a quem aparentemente nada faltava, não eram necessariamente felizes.

Nasci em Lisboa, na  época sombria da ditadura. Portugal estava claramente duas décadas atrás do resto da Europa, onde a juventude vivia a revolução hippie. O desejo de participar naquela colorida efervescência que ia mudar o mundo levou-me a ir ter com um amigo que fora viver para a Bélgica.

Foi lá que, em Novembro de 1973, me cruzei com o budismo tibetano na pessoa de Lama Kunzang. Comecei por ouvir algumas palestras e tudo fazia tanto sentido e abria tais horizontes que aderi com o entusiasmo próprio de quem é novo e ainda não acumulou receios. Tornei-me budista em 1974, numa cerimónia mágica.

Nos anos 80 fiz um retiro de três anos centrado na prática da meditação e no estudo dos textos budistas tradicionais sob a orientação de alguns dos mais importantes lamas tibetanos contemporâneos. Fiz algumas viagens ao Oriente (Índia, Nepal e Butão) para participar em eventos budistas marcantes e em 1992 comecei a ensinar o budismo, a pedido do meu mestre. Tem sido essa a minha principal atividade desde então.

Voltei para Portugal em 1996 onde tenho vivido, apesar de continuar a viajar bastante. Sou convidada para dar seminários, palestras, cursos e orientar retiros em Portugal, França, Bélgica, Inglaterra, Tahiti e Moçambique. Traduzi vários livros budistas para português, e traduzi também o Dalai Lama numa das suas conferências, aquando da sua primeira visita a Portugal. Vivo atualmente no Porto onde dinamizo a Delegação da União Budista Portuguesa e a Bodhicharya Portugal.

 

2. Qual tem sido o seu percurso como escritora?

No seguimento das inúmeras palestras e workshops, escrevi dois livros sobre budismo “A arte da vida” e “A alquimia da dor”, publicados em Portugal pela Pergaminho. O primeiro foi também publicado no Brasil pela Editora Ground e ambos foram traduzidos para Espanhol e publicados pela Editora Pluralsingular.

Em colaboração com outros autores publiquei ainda um livro sobre cuidados paliativos “A dignidade e o sentido da vida”, e participei em outras obras conjuntas.

O meu gosto pelas histórias para crianças levou-me a escrever um livro de contos infantis “As aventuras de Tachi, o grilo tibetano”, publicado em Portugal pela Arte Plural e disponível agora na Amazon em francês, inglês e alemão. O mais recente livro é O Hábito da Felicidade.

 

3. Fale-nos um pouco do seu livro e o que a levou a escrevê-lo.

O hábito da felicidade é um livro para quem tem consciência de que a felicidade não depende, tanto quanto geralmente se pensa, das coisas e das circunstâncias exteriores e que, ao inverso, é uma capacidade que todos temos em grau maior ou menor. Condicionados pela educação e pelos hábitos adquiridos ao longo dos anos, todos interpretamos os eventos da nossa vida e reagimos a eles em função dessa interpretação. Assim, na realidade, não são as coisas que nos fazem felizes ou infelizes mas a nossa reação a elas e, por isso, em grande parte, a felicidade é uma escolha. Claro que não é uma escolha consciente e deliberada uma vez que uma grande parte da nossa vida é vivida de forma inconsciente, em piloto automático.

Por isso há todo um trabalho a fazer sobre nós próprios para viver de uma forma mais atenta e presente, de forma a que as nossas reações sejam positivas e a nossa vida mais realizada.

Como em relação aos livros anteriores, a ideia de escrever este derivou dos cursos e seminários que fui dando ao longo destes últimos vinte anos. Escutando as dificuldades das pessoas, as suas dúvidas e perguntas, compreendi como uma tradição espiritual tão antiga como o Budismo tem tanto para nos ensinar e como a sua aplicação na vida de todos os dias pode ser tão eficaz.

 

4. Que tipo de leitor desfrutará deste livro?

Acho que qualquer pessoa, de qualquer nível cultural ou quadrante da sociedade pode achá-lo útil. Uso uma linguagem simples e exemplos fáceis de entender. A sua utilidade não está limitada também a budistas ou simpatizantes: qualquer pessoa, quer siga uma via espiritual ou não, pode encontrar alguma utilidade no livro.

No entanto, como é óbvio, nem toda a gente está disponível para esta abordagem. É preciso que exista uma forma de despertar interior, uma consciência mais ou menos clara da nossa responsabilidade na forma como experienciamos a vida.

 

5. Por que decidiu publicar este livro com a Bubok?

Quando surgiu a ideia de escrever este livro, a editora com que habitualmente trabalho fez a sua proposta. Mas as condições do contrato que recebi não me agradaram e resolvi experimentar a auto-publicação. Já tinha experimentado a Amazon mas fiquei contente quando encontrei a Bubok por poder propor aos leitores um preço mais acessível, nomeadamente nos portes, e um prazo de entrega mais curto.

 

6. O que você recomendaria a um escritor que deseja autopublicar-se?

Existe muita informação na internet sobre como autopublicar-se, a maior parte em inglês. Porém, há alguns pontos essenciais em que tem de existir rigor e exigência.

A revisão é um ponto essencial. A menos de conhecer alguém com a mestria suficiente da língua para o ajudar, contrate o serviço de um profissional: os leitores detestam livros mal escritos e, apesar dos corretores automáticos dos processadores de texto, há sempre erros. Por isso, peça a várias pessoas para relerem e corrigirem o seu texto e para lhe darem a sua opinião.

A formatação do resultado final é outro dos pontos essenciais. Quer seja como ebook ou como livro em papel, é muito importante que tudo esteja bem, que o índice esteja corretamente criado, as páginas numeradas, etc. Aqui também, se puder, contrate o serviço de um profissional – a menos que saiba o que está a fazer.

A capa é outro ponto em que muitos dos autores que se autopublicam falham. Os autores tendem, por vezes, a menosprezar a capa, a pretexto de que o que conta é o interior. Mas os leitores, a menos de já conhecerem o autor, começam por ver a capa – antes de abrirem o livro. E uma imagem de má qualidade, insípida, com caracteres ilegíveis e confusos, não é convidativa e transmite uma impressão de amadorismo que não abona a favor do livro.

Ainda existe a ideia de que os autores que se autopublicam o fazem por não terem qualidade suficiente para que alguma editora os aceite. É, por conseguinte, muito importante desmentir e contrariar essa ideia apresentando um trabalho de qualidade a todos os níveis.

Finalmente vem a questão da promoção. Um autor que se autopublica tem de saber que o seu livro vai aparecer num universo editorial onde são publicados inúmeros livros diariamente. Por isso, divulgar o seu livro será francamente mais fácil se tiver uma rede de contactos já criada, através de amigos, conhecidos, fãs, ou se tiver um blog, uma página de facebook ou twitter. As redes sociais vieram facilitar bastante esta tarefa mas, apesar disso, é necessário algum trabalho para publicitar a sua obra.

Claro que existem sempre fatores imponderáveis que podem determinar o sucesso inesperado de um autor principiante e, ao inverso, o facto de não vender muitos livros não significa que a sua obra não tenha valor. Esteja preparado para tudo.

E lembre-se que, em última análise, o segredo para cativar os leitores é escrever algo que os interesse e dê resposta a alguma pergunta ou necessidade que eles sintam.

 

Ainda existe a ideia de que os autores que se autopublicam o fazem por não terem qualidade suficiente para que alguma editora os aceite. É, por conseguinte, muito importante desmentir e contrariar essa ideia apresentando um trabalho de qualidade a todos os níveis.

 


O hábito da Felicidade

Tsering Paldron

Comprar o ebook ou o livro em papel na Livraria da Bubok Portugal ou Bubok Brasil.

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