Teresa Mendes

A literatura portuguesa contemporânea de potencial recepção juvenil tematiza multifuncionalmente as questões relacionadas com a comunicação interpessoal e intergeracional a vários níveis: por um lado, demonstrando que nem sempre o diálogo entre gerações é possível e/ou significativo, gerando situações de incomunicabilidade por vezes irreparáveis; por outro,sublinhando que a inoperância da palavra provoca nos sujeitos adolescentes naturais movimentos de retracção e silenciamento, responsáveis em parte pelo percurso de deambulação no interior de si mesmos em busca da sua identidade e de uma maior consciencialização do seu existir.

 

As vozes plurais de um sujeito adolescente arquetípico, frequentemente configurado como um eu exemplar, atravessam os universos textuais dando conta das suas inquietações de ordem existencial, psico-emotiva e relacional,instituindo-se o recurso primeira pessoa como estratégia discursiva e enunciativa preferencial. Nos seus discursos introspectivos, as personagens narrativizam a problemática da constituição do sujeito como ser oscilante e dramático, plasmando na superfície textual os meandros da sua interioridade.

 

 

Mas se o diálogo com os outros se impõe frequentes vezes como improdutivo, também é certo que a literatura para jovens não apresenta apenas uma visão disfórica relativamente comunicação interpessoal. Na verdade,avultam nas narrativas literárias dos anos oitenta e noventa do século XX situações em que a comunhão empática se operacionaliza, pela palavra e pelo silêncio que a emoldura ou que a substitui, em contextos pessoais marcados pela presença física dos sujeitos e naqueles em que a ausência do outro potencia o surgimento de uma comunicação distância mediada pela escrita, que assume desta forma uma função comunicativa preferencial.