Calendario 14 / Abril / 2014 Cantidad de comentario Sem comentários
Quem é a Regina Sardoeira?
Sou, acima de tudo, uma pessoa presente e ativa no mundo que desenvolveu ao longo dos anos uma série de formas de se enunciar como tal. A primeira, sem dúvida, é a escrita já que os primeiros textos, nos quais reconheço valor, datam dos 12 anos de idade e são sonetos, essa forma poética tão rígida e difícil de cumprir na íntegra. A Filosofia surgiu mais tarde pelos 15/16 anos quando, no contexto de aulas áridas e enfadonhas, capazes de desmotivarem qualquer um, adquiri a certeza de que  a Filosofia tinha que ser muito diferente, muito mais ativa e prática e fascinante do que o que essa minha primeira professora de Filosofia me ia servindo. Por isso, embora o meu fracasso, enquanto aluna daquela docente específica, tivesse sido bastante evidente, segui para a universidade e licenciei-me em Filosofia, continuando, no entanto, a perceber que também os mestres e doutores da Faculdade de Letras do Porto pouco me ensinaram. Fui eu que, incansável pesquisadora e leitora voraz, fui dando a mim mesma a licenciatura em Filosofia. Mais tarde, depois de licenciada oficialmente e sentindo que, se acedesse ao ensino, tornando-me professora, correria sérios riscos de trair a filosofia, atendendo aos exemplos que tinha em mente, procurei outras profissões, cheguei a trabalhar na Caixa Geral de Depósitos alguns anos, até ser convidada para lecionar no Colégio de S. Gonçalo, em Amarante. Confesso que aceitei o convite, a medo, tanto mais que foi um caminho sem retorno – tive que pedir demissão da CGD. Porém, fui compreendendo que me era possível ser professora de Filosofia de um modo positivo e legítimo, à revelia de todos (ou quase todos) os mestres que tive, e tenho a consciência que me tornei uma professora de referência para os alunos que fui formando e que continuo a formar até hoje. E então, dizer que a Filosofia é uma parte integrante da minha identificação pessoal é correto, visto que sou formadora de jovens no âmbito do pensamento e da ação e continuo a saga de investigadora. Em interação, escrevo, e faço-o diariamente, tenho vários livros publicados e desejo prosseguir nesta espécie de missão, pois me parece que qualquer  uma das minhas obras traz em si conteúdos que merecem ser conhecidos e divulgados.
Qual tem sido o seu percurso como escritora?
Publiquei o primeiro livro – O Olhar do Leão – com 25 anos, um volume de poemas e pequenas histórias, e foi uma edição de autora que me deu imenso prazer e me fez aceder a um certo número de atividades, tais como colocar o livro em livrarias, dar entrevistas para a rádio, etc. e submeter-me a um primeiro contacto com a crítica. Anos mais tarde, em 1992, publiquei outra obra de  poesia e contos, intitulada DesEncontros, obra que foi patrocinada pelos amigos da autora e também pela Câmara Municipal de Amarante. Seguiu-se um livro de apoio aos estudantes de filosofia em 2001, intitulado Derrubar o Muro -, Guia de Filosofia que vim a reeditar em 2011 e 2012, o segundo editado pela Bubok. Em 2006 publiquei o meu primeiro romance, O Pulo do Lobo, editado pela Pé de Página Editores e finalmente, em 2014, saiu O Besta Célere para cuja publicação recorri à Bubok editora. Pode ver-se, através desta enumeração, que há alguns hiatos entre publicações e esta circunstância deve-se ao facto de considerar difícil o acesso aos meios editoriais: à exceção do romance O Pulo do Lobo que foi acolhido pela editora, editado, distribuído, etc. sem qualquer custo para mim, todas as outras obras podem considerar-se de autopublicação, com todos os inconvenientes que tal sistema acarreta, nomeadamente no que diz respeito à divulgação e distribuição. Os livros não chegam aos jornais, às revistas, à televisão e à crítica pelo que, sendo eu escritora, de facto, não tenho a projeção de outros em quem, por esta ou por aquela razão, certas editoras de grande alcance apostaram. Confesso que neste momento a minha prioridade é vencer esta barreira e ultrapassar o anonimato relativo que me envolve, fazendo todo o possível para que o público tenha a oportunidade de ler, discutir e criticar as minhas obras.
O que trata o seu ensaio “Besta Célere”?
O BESTA CÉLERE é uma obra de ficção, um romance, e traça os episódios da vida de uma personagem, de seu nome Besta Célere. Homem excêntrico e devorado pela pressa de viver, mostra-se, aos poucos como sendo um paradigma do próprio ser humano. A relação do ser humano com o tempo de vido e o seu limite inevitável, a necessidade de isolamento mas, em simultâneo, a busca dos outros como interlocutores imprescindíveis são temas recorrentes de O Besta Célere.
O que a levou a escreve-lo?
Escrevi O Besta Célere obedecendo a uma necessidade imperiosa que me conduziu a uma escrita torrencial, quase automática, pois não obedeceu a nenhum plano prévio ou a qualquer esquematização. Houve, no entanto, uma sugestão inicial baseada na possível semelhança sonora  entre Best Seller e Besta Célere e, de certo modo, essas duas palavras – Besta Célere – ficaram a pairar em mim durante vários meses, sem que disso tivesse consciência, até que um dia, à mesa do restaurante, organizaram-se como sendo o nome de um certo cidadão;  aí mesmo escrevi o início da história. Enquanto tal, a narrativa foi-me sendo revelada à medida que ia escrevendo, o que me demonstrou a existência da história já elaborada em mim, de uma forma inconsciente, e bruscamente tomando forma e corpo. Percebi que coexistem em mim vários narradores que se adequam, do ponto de vista estilístico, ao tipo de narrativa em questão no momento em que escrevo, podendo funcionar como uma espécie de heteronímia. Foi, pois, em simultâneo, um ato de  criação levado a cabo por mim, a autora, mas revelando uma outra voz que também é minha mas que, aparentemente, se sobrepôs a mim.
Porque é que os leitores devem ler este livro?
Os leitores devem ler este livro, claro, porque a escrita na sua fluência terá poder para os cativar, caso procurem numa obra literária algo mais do que a narração linear de uma história. Também se sentirão provocados ao verem as regras da escrita que aprenderam na escola a serem sistematicamente alvo de destruição e talvez se sintam tentados a corrigir, no livro, aquilo que se afasta da normatividade linguística. Se possuírem conhecimentos, a esse nível, saberão que a literatura, por ser uma arte, pode subverter o padrão e muitos escritores o fizeram, afirmando o seu modo próprio de usar a língua; e acabarão entendendo a técnica utilizada na escrita de O Besta Célere, também ela decorrente da força da personagem central da história e do narrador que lhe deu corpo e voz. O estilo que percorre todas as páginas de O Besta Célere também não foi premeditado ou esquematizado: nasceu em simultâneo com o tempo da escrita.
O leitor comum, não versado nas correntes literárias, poderá sentir-se desafiado e, se lhe interessar a história e quiser desvendá-la, será convidado pelo narrador a fazer um exercício intelectual e mental, tornando-se, ele próprio, agente de construção da obra.  Seja como for e seja quem for o leitor creio que todos tirarão benefícios deste contacto com o Besta Célere. E todo aquele que quiser criticá-lo, mesmo que destrutivamente, terá que começar por lê-lo…em todos os casos é necessário, portanto, que o livro seja lido.
Tem recebido feedback dos leitores? Qual?
O feedback relativamento a O Besta Célere aconteceu mesmo antes de partir para a sua publicação, pois dei-o a ler a quem poderia fazer-lhe uma crítica avalizada e honesta. Esses pré-leitores incentivaram-me a publicar a obra.
Depois de publicada e lida já foi alvo de análises profundas no contexto das quais foram encontradas possíveis influências vindas de autores que, efetivamente, a autora leu, reconhecendo que a marca deles terá permanecido em si, oculta, para, por fim, se revelar neste romance. Falo de Dostoievski, de Saramago, de Kafka, de André Breton, de Proust, etc., nomes, estilos e correntes que emergiram à consciência do leitor que descobriu em O Besta Célere afinidades e consonâncias. Friso aqui que sentir-me irmanada com estes nomes cimeiros da literatura mundial é uma honra e uma descoberta, visto que não tinha nenhum deles em mente quando escrevi; e contudo a absorção do estilo e da voz de todos esses ficou em mim e tornou-se minha. Não posso, nem quero renegar influências, porque não há qualquer  colagem deliberada a nenhum destes nomes que citei. E, se eles estão lá, é na justa medida em que, depois de os ler, lhes assimilei a essência, acrescentando-me. Mas também pode ser que esses meus leitores se enganem quanto ao estilo e teor da minha obra e por isso continua a ser importante que o livro seja lido, esmiuçado e criticado.
Sabemos que já fez uma apresentação oficial do seu livro, tenciona fazer outras pelo país?
O próximo lançamento de O Besta Célere será na cidade do Marco de Canaveses, no dia 28 de março, às 16:30 horas, integrado na Feira do Livro do Município, designada como Marco de Letras. Mais tarde, em data ainda não confirmada, tenciono levá-lo até Coimbra.
Porque é que decidiu publicar o livro com a Bubok?
Escolhi a Bubok porque já conhecia a sua forma de trabalhar quando quis editar, com rapidez, o livro Derrubar o Muro – Guia de Filosofia – II Parte, um livro destinado a servir de coadjuvante do manual adotado para a docência da Filosofia no ensino secundário. Agradou-me o trabalho efetuado pela editora, no que concerne ao profissionalismo e ao apoio que sempre me deram, enquanto autora. Não há dúvida que é uma editora que trabalha com eficiência, fornecendo serviços de qualidade a todo aquele que deseja publicar a sua obra de forma independente.
O que é que recomenda a quem queira autopublicar um livro?
Todo aquele que escreve e julga saber fazê-lo, a ponto de ousar publicar um  livro, deve questionar a sua própria obra e, como é muito difícil fazer o próprio julgamento – o autor está demasiado próximo da sua criação para poder ser um bom crítico – poderá pedir  a alguém com conhecimentos acerca da literatura que lhe leia o livro e lhe aponte possíveis defeitos ou lhe dê sugestões para melhorar este ou aquele aspeto…mas precisa de ter suficiente humildade para aceitar os conselhos que lhe forem dados. Antes dos 25-30 anos não me parece que uma pessoa, por melhor que escreva, do ponto de vista técnico, tenha envergadura para se arriscar a publicar. Em primeiro lugar, essa pessoa não teve ainda tempo de fazer as leituras essenciais que todo o escritor precisa de começar por fazer, nem pôde praticar a escrita  com a intensidade que um trabalho desse género exige. Por outro lado, falta-lhe também experiência de vida sem a qual os assuntos sobre os quais escreverá não passarão de um conjunto superficial de lugares-comuns. Portanto, o aspirante a escritor deve esperar pelo tempo próprio e encarar  a escrita como um trabalho cuja técnica precisará de dominar, antes de se lançar para a publicação e passar a considerar-se escritor. Mas, mesmo depois de ter atingido a maturidade necessária de modo a sentir-se seguro na arte e na técnica da escrita, mesmo depois de ter já escrito o seu primeiro livro, deve fazer a si próprio algumas perguntas: porque haverá alguém de ler aquilo que eu escrevo? Que vou eu dar aos leitores que lhes seja útil ou ocasião de prazer? Se eu fosse o leitor, agradar-me-ia ler a minha própria obra? Estou a escrever para quem, quem são os meus leitores preferenciais?

 

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