Calendario 28 / Outubro / 2011 Cantidad de comentario Sem comentários
Entrevista a João Fernandes, autor da Bubok

Quem é o autor João Fernandes?

Procuro ser um escritor atento e sensível, que transporta para a lógica das palavras as sensações que recolhe. Sou um curioso com o fenómeno do mundo; entusiasmo-me, apaixono-me e recuo à tristeza. Tenho a ambição de, com tudo aquilo que faço, contribuir um pouco para que algo seja bem feito.

.

O que o levou a escrever o livro “Povo que lavas no rio”?

Este livro constituiu uma missão de maior importância. Na mente de um escritor dão-se relâmpagos súbitos que são necessários esmiuçar. Nesses relâmpagos, chega-nos uma história por contar, a qual cresce e se desenvolve na estufa do nosso raciocínio, fechada do mundo. Desde que fui recipiente desse feixe luminoso, compreendi que tinha a missão de escrever “Povo que lavas no rio”. Precisava de o fazer, para honrar e para que fizessem algum sentido tantos episódios da minha vida que eu teria de contar no livro. De que vale, afinal, viver uma vida, compreender a sequência dos dias e aprender com eles, se essa experiência fica retida na única pessoa que viveu esses momentos? A missão do escritor é fazer durar a lição que os seus sentidos recolhem da sua mundividência.

“A MISSÃO DO ESCRITOR É FAZER DURAR A LIÇÃO QUE OS SEUS SENTIDOS RECOLHEM”

Qual a sensação de ter o livro publicado?

T.E. Lawrence escreveu acerca do seu célebre livro “Os Sete Pilares da Sabedoria”, que certos livros foram feitos para serem escritos, e não para serem lidos. Por muito confortante que pareça esta frase, a afirmação leva-nos ao que já aqui mencionei: um escritor sente constantemente nascer a história dentro de si e sente a necessidade de a colocar no mundo. Deste modo, sucede como se os escritores fossem pais de uma ideia que depende deles para ir ao mundo, para que a ideia (ou lição, como já lhe chamei) não se perca no entendimento de um só homem, mas possa chegar ao entendimento de um público. Só assim o processo se vê concluído. A sensação de ter um livro publicado é a sensação de, por fim, depois de esforços e cansaço, nada ter sido em vão e a missão estar enfim cumprida.

Tem algum ritual para escrever?

Mais do que um ritual, tenho uma filosofia que dita que nenhum escritor pode levar toda a sua vida a produzir literatura. Um escritor, e falo de mim em particular, não pode, por amor à sua obra, escrever em qualquer momento e em qualquer contexto. Uma obra literária, produzida num certo estilo ou forma, requer continuidade: um estilo literário distingue os escritores entre si, e um escritor não mantém o seu estilo se não tiver a preocupação de escrever apenas nos momentos em que se sente capaz de dar continuidade àquilo que já escreveu. Passam semanas, e por vezes meses, em que a pessoa que sou não pode dar lugar ao escritor que em momentos sou, e que gostaria tanto de ser mais vezes.

Onde vai buscar ideias para criar as suas histórias?

Um artista, seja qual for a arte a que dedique, é sensível a tudo aquilo que o envolve no quotidiano. Todas as artes e formas de expressão despertam em qualquer artista a ambição de completar a arte, de completar o mundo. De resto, é o universo das sensações que me abre as portas para as minhas criações. Escrevo sobre o mais profundo da vida, que são todas essas pequenas coisas que reconhecemos, de que sentimos falta se elas estiverem faltando, mas que não compreendemos porque fogem a uma explicação que nos pareça lógica. Escrevo sobre os mundos que se prolongam nos sentimentos de cada pessoa, pois parece-me o tema mais elevado para alguém que possui a sensibilidade de perceber o interior humano.

“É O UNIVERSO DAS SENSAÇÕES QUE ME ABRE AS PORTAS PARA AS MINHAS CRIAÇÕES. ESCREVO SOBRE O MAIS PROFUNDO DA VIDA”

O que recomenda a quem quer escrever um livro?

Nada pode impedir que seja feito aquilo que só pode existir quando for feito. Um escritor, como qualquer artista, não pode existir sem talento, sem o espírito e as ideias já na sua mente, ou sem a necessidade aflitiva de escrever. Mas a cada pessoa que se reconhece como escritor, e que apenas hesita entre o fazer e o não fazer, só tenho a dizer que – não contribuam para um mundo mais injusto ainda, em que podem nascer catástrofes mas onde não pode nascer a arte. Certas pessoas nasceram com a missão de escrever, e essa missão só fica cumprida no momento em que a obra é escrita. Nenhum escritor o é sem escrever, e a recompensa moral de se escrever algo que não existia antes do nosso esforço – significa o melhor dos mundos.

Quer deixar alguma mensagem sobre o livro “Povo que lavas no rio”?

Este livro quer escapar à superficialidade material que enche o mundo e muita da literatura que é produzida em certos períodos da evolução cultural. Procurei descer ao mais profundo da alma humana e, em particular, daquilo que é a identidade portuguesa, o Fado português. Trata-se de um livro sobre perturbações sensíveis de um homem que viu, com os olhos da sua vivência, a face impiedosa do destino, e que sem resolução viveu a vida a render-se, julgando-se impotente, a esse Fado que lhe pensou dirigido. É apenas quando o tempo passa, e quando com ele passam as oportunidades e os momentos possíveis, que um homem percebe que a sua vida podia ter sido tão diferente do que foi, tão diferente do que aquilo que fez da sua vida. Trata-se de uma busca sobre a razão de viver, sobre o vazio que permanece quando tudo se esvai, e sobre a esperança que reside depois dos erros – a paisagem verde e luminosa da redenção humana. É um livro sobre o coração que todos temos e sobre a vida que só depende de nós próprios.

“É UM LIVRO SOBRE O CORAÇÃO QUE TODOS TEMOS E SOBRE A VIDA QUE SÓ DEPENDE DE NÓS PRÓPRIOS”

Como é que conheceu a Bubok?

Tive conhecimento do projecto da Bubok através de um noticiário, que depressa me fez ver que a publicação na Bubok poderia ser um primeiro passo para uma eventual e futura publicação por meio de outra editora, que possa enfim levar a minha história às estantes das livrarias e das bibliotecas, como é meu sonho. Efectivamente são projectos destes, nascidos de ideias originais, que potenciam a mudança de rumo de muitas coisas.

.

A Equipa da Bubok Portugal

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

He leído y acepto las políticas de privacidad