Calendario 06 / Maio / 2019 Cantidad de comentario Sem comentários
Gabriel mãos de ouro é um livro muito especial. De facto, é um dos mais especiais que temos na Bubok Portugal.  Carla Mariam

Gabriel nasce irremediavelmente invulgar. As suas mãos são feitas de ouro puro. Encontrado na floresta, é criado num ambiente de amor, bondade e beleza – três irmãs cuidam de o preparar para a longa viagem que o espera anos mais tarde. É depois, na atmosfera do verde espesso da floresta, que conhece Helena, e com ela o amor. Esse encontro causa uma viragem no imperturbável percurso do nobre jovem. Oscilará entre o medo, a perda: correr no vazio, a queda no mundo obscuro, a busca até ao abismo, a gente vestida de lama, a perda do ouro, a revolta da terra; e o deleite em pequenos tesouros: a vida escondida nos casulos, o canto da água, a dança das auras, o branco estelar da neve, os contos do paraíso, a criança-Deus a brincar. Está condenado a sacrificar as suas mãos em prol de algo grandioso.

A sua autora é Carla Mariam:

Nasci no ano de 1976, numa cidade minhota. Da infância guardo imagens felizes: a aldeia e o verão. Em 1994, desci até Coimbra para estudar Direito por linhas tortas. Durante dez anos, fiz de tribunalista – investiguei, separei o torto do direito e narrei o lado pior do ser humano. Em 2012, despi a beca. Fui procurar coisas belas – um curso livre de pintura nas Belas-Artes do Porto; uma pós-graduação em Livro Infantil na Católica de Lisboa; um curso de Arteterapia Antroposófica. Escolhi Viana para viver a maternidade. Interesso-me por educação, livros para todas as idades, contos maravilhosos, direitos humanos das crianças, pelo caminho do ser humano, por arteterapia, antroposofia, escrita … e pela rotina do quotidiano.

Quem é Carla Mariam?

É um pseudónimo. A intenção foi assumir o lado criativo; todo o ser humano tem um Eu criador único. E atribuir um nome a alguém é um momento ‘sagrado’ – é destinar essa pessoa. Por isso, o nome deste aspeto humano, só a própria pessoa está em condições de o dar. Carla Mariam é um nome que pretende significar o meu aspeto mais genuíno, à margem de quaisquer papéis ou representações sociais. Agora, quem é esse Eu? O livro e o conto são uma manifestação disso mesmo, nas suas possíveis leituras.

Quando começou a escrever?

A escrita surge como uma necessidade de ‘expiação’ – a palavra tem um poder libertador, porque ordena o que é caótico e encaminha; e quando é escrita, muito mais. E percebi que o seu exercício era criativo – pensamento gerava pensamento, palavra puxava palavra, pergunta criava resposta. Por outro lado, eu procurava preferencialmente literatura infantojuvenil para ler aos meus filhos; e, daí, esses dois interesses aliados levaram-me a aprofundar o universo do livro infantil, numa pós-graduação na FCH da Católica, em Lisboa. E assim fui ensaiando alguns escritos, de pensamentos espontâneos, vivências do quotidiano, fragmentos de possíveis histórias, por prazer de explorar as potencialidades da palavra escrita.

gabrielComo surgiu «Gabriel, mãos de ouro»?

Surgiu no âmbito de uma sessão de arteterapia antroposófica; a professora havia feito um repto para fazer uma certa tarefa com base num conto já existente ou criado por nós. Não conclui a tarefa, mas assumi o desafio de criar um conto. Foi aí que defini o tema e o argumento principal da história e tracei o destino de Gabriel. Fui escrevendo e a história foi aparecendo.

É um livro de fantasia?

O livro contém uma narrativa curta, com uma atmosfera de um conto de fadas – é um conto narrado com uma linguagem que recorre à simbologia, a imagens arquetípicas e até a um certo maniqueísmo, e que não pretende deter-se muito na descrição, no figurativo e no contorno. Esta foi a intenção. Não é, portanto, um conto moderno, nem realista. O título deixa antever isso mesmo. Foi escrito para ter aquele ambiente onírico, de sonho, caraterístico dos contos de fadas.

Foi uma opção não ilustrar o texto?

O livro como objeto, com uma específica distribuição gráfica e sem imagens, foi um propósito: por um lado, respeitar o ritmo da história, mudanças de tempo e de espaço, momentos de viragem, os seus silêncios e até vazios (porque há momentos na vida para os quais as palavras não chegam para contar); por outro lado, a ausência de ilustrações pretende não condicionar a visualização ou recriação interna das imagens, tanto mais possível quanto mais elementar for a caraterização dos personagens, espaços físicos e psicológicos, e mais indefinidos os seus contornos – permite que o leitor, na falta de elementos para uma leitura visual, busque internamente as suas próprias imagens que tenham correspondência com as impressões que o texto lhe dá. Não tem ilustrações, mas é visual, portanto. Não quer dizer que a ilustração não possa expressar essas impressões; pode sim, claro. Foi uma escolha, só isso.

O amor é o tema do livro?

O amor é tema transversal nesta narrativa – no sentido de entrega à experiência da vida, amor a alguém, ao próximo e à humanidade; também uma história de encontro com o amor a si mesmo, de crescimento humano – sem querer prender outras leituras.

O protagonista tem mãos de ouro. É bom ou mau?

Nem é bom nem mau. É o que é, uma evidência invulgar que o fará vivenciar experiências que alternam entre o amor e o medo; uma qualidade especial que o leva a ter uma infância cheia de cuidados e beleza, a enfrentar o mundo com confiança e verdade, a entregar-se ao amor; uma evidência que vai gerar incompreensão dos outros e a perda das suas mãos por um bem maior.

Vai haver apresentação pública?

Não tem sido uma opção. De resto, a apresentação está já publicitada em vídeo

Qual o público a que se destina?

Enquanto escrevia o texto não pensei em o dirigir a um grupo específico. Ademais, penso que não existem livros para este ou aquele grupo, um ensinamento que também trouxe doutros contextos. Eu própria consumo desde há muito livros categorizados como infantojuvenis. Claro que há alguns parâmetros que permitem fazer juízos de adequação, mas penso que um conto do género deste pode ser lido, autonomamente ou por intermédio, por diversos grupos.

Está a escrever mais histórias?

É um propósito. Os resultados têm o seu tempo.

 

Obrigada Carla!

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