A SERRA

Nasci num bosque frondoso, entre duas margens escarpadas formando como um triângulo invertido, com o seu vértice ao longo no fundo do ribeiro. Foi em 1940, ano em que a Europa foi assolada por uma tremenda guerra, cujos efeitos senti e recordo.

Os meus cinco ou seis anos permitiram-me gravar imagens que se perpetuaram até hoje, um local onde o céu mal se deslumbrava por entre as ramadas das árvores nascidas à beira dum ribeiro que corria entre 2 encostas escarpadas, e que ainda existe no momento em que elaboro estas linhas sobre a Serra de Monchique.

Ó Serra da minha infância, verdejante

Que em simbiose com o homem vivias

Ele dava, o seu trabalho e respondias

Como responde a mulher ao seu amante

Num abraço eterno, puro e constante,

Em locais férteis, com amor te tocava

E na mata muito densa desbastava

E contra fogos estava sempre vigilante

Tu davas-lhe a lenha, o mel tão adoçante

Davas-lhe o trigo que pouco produzia

Mas era dele o pão que consumia

E que lhe dava uma energia vigorante

Desapareceu de todo, estás despida

Porque o homem, um dia, te fez a despedida