Este livro foi escrito no ano lectivo de 1948/49 e teve por base, principalmente, as notas tomadas nas aulas da disciplina de Moral, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Foi organizado segundo os sumários e a bibliografia indicada, existente nas Bibliotecas da UC, traduzida em diversas lÃnguas, sobretudo o espanhol, o francês, o inglês e o português, e vai referida no seu contexto.
Parece-nos que por Moral se deve entender um conjunto de normas universalmente aceites, iguais para todos, independentemente da raça, da classe, da polÃtica e da religião. Teoricamente, assim é, porque ninguém desconhece, na sua consciência, o que é Bem e o que é Mal. Todavia, na Prática, tal não acontece, dado que a Moral não consegue esquivar-se a caracterÃsticas especiais, em parte sociológicas e sobretudo religiosas.
Ao pretendermos obter uma definição para Moral, tomada como uma ciência filosófica, que é, encontramo-nos perante a mesma dificuldade, comum a todas as definições, especialmente as de carácter filosófico: existem quase tantas definições como definidores, porque, cada um exprime sempre o seu conceito de moral, com uma pontinha de subjectivismo.
As Enciclopédias, verdadeiras aglutinações do conhecimento, quase todas elas nos remetem para a etimologia, dizendo que, quer vindo do grego, Ethika, quer vindo do latim, Mores, ambas significam, em português, Moral ou Ãtica, sendo ambas tidas como «Ciências dos Costumes».
Em virtude de surgirem estes dois termos, Moral e Ãtica, muitos filósofos encontram razão para distinguirem a Moral da Ãtica, e então, fazem uma distinção muito sucinta: uns, dizem que a Moral antecede a Ãtica; e outros, curiosamente, que é a Ãtica que antecede a Moral. Ora, dizer apenas isto, é dizer nada. Contudo, alguns vêm dizer, mais ou menos, e resumindo, que a Moral é um conjunto de normas teóricas que se impõem, universalmente à conduta humana e que a Ãtica é a sua social aplicação prática; depois tentam dar uma explicação que é um tanto confusa, o que leva outros a dizer, simplesmente, que as distinções entre Moral e Ãtica geram confusão. Um professor dizia que a Humanidade não lucrava nada com tal distinção, e que, estando tão próximas uma da outra, como estão, o melhor é dizer que são sinónimos. Dadas estas considerações, passaremos a usar, indiferentemente, qualquer dos termos. Mas o que vamos é orientar este trabalho duma maneira muito «sui generis», tendo em vista as relações especÃficas entre a Moral e o único ser que lhe está sujeito, o Homem, pondo de lado muitos dos pontos de vista (algumas dezenas) sob os quais a Moral é encarada.