OS BASTIDORES DA LIBERDADE


O autor do livro, tinha três especialidades: atirador, escriturário e Operador de Cripto, com a patente de 1º cabo; tinha, além disso, conhecimentos auto-didácticos na formação de sistemas cripto e de códigos; e  um curso de levantamento de informações de operações de reconhecimento(IOR); e a forma como, quando e onde, obter essas informações, no terreno, antes de ser planeada qualquer  acção ou intervenção de grupos militares de luta anti-terrorismo.

                                                                                O Centro de Cripto da Região Militar Norte - Angola -

Dentro do posto de cifragem e decofragem de mensagens, ao qual era dado o nome oficial de CCP, que era a abreviatura de Centro Cripto - embora com uma analogia de CCCP, que não deixava, na altura de ser bem curiosa e por ser o nome da Rússia antes de 1991, mas sem que houvesse alguma noção, entre todos os criptos deste significado internacional, na equipa  à qual pertencia; cujo equipamento em armas ligeiras - colocadas logo à entrada de cada Centro de Cripto, numa das divisões do quartel Batalhaão de Caçadores nr 12, Uíge, Norte de Angola; Este CCP, ficava no primeiro piso, e era o terceiro gabinete, contíguo ao gabinete do Comando da Unidade, separado, pela secretaria geral, e muito próximo da Sala de Operações, do Posto de Rádio,e do Bar dos oficiais, onde, curiosamente nunca entrei, por ser espaço reservado a patentes, tais como alferes, tenentes, capitães, majores e generais; e por exclusão de regulamentos do RDM, a patentes inferiores, ais como sargentos, furriéis e cabos milicianos. Mesmo assim houve um dia em que o meu "camarada-de armas" de nome Luís Recto, se vangloriou ter entrado, nesse Bar de oficiais. A partir de meados do mês de Fevereiro de 1974, e todas as terças-feiras, ao Centro de Cripto do BC 12, entravam mensagens, sempre à mesma hora - entre as 4 e 5 horas da madrugada - com teores algo diferentes do habitual, dirigidas ao Alferes Figueiredo, natural de Gumarães, e excelente militar miliciano, pela afabilidade que sempre demonstrava com os seus subalternos directos, dos quais eu fazia parte, com mais 7 elementos - num total de 8 pessoas que completavam o quadro de milicianos; todos de origem portuguesa de Portugal continental - Pessoalmente entrei uma única vez, na Sala de Operções - carregada de mapas nas paredes e de "pins", de várias cores, espetados um a um em sítios sob apertado controle do Capitão Ribeiro e do furriel Brandão, natural  de Coimbra, que aí faziam serviço diário, no lançamento de operações e gestão de informação sobre as actividades suspeitas de configurarem "acções ou movimentações de populações que pudessem esconder guerrilheiros " . Recordo que na Cidade do Uíge, que se situava no meio duma vasta zona florestal e com milhares de plantas de café, existiu sempre um posto de polícia da DGS - antiga polícia política - cuja missão principal era infiltrar informadores pagos, para recolher informações, actuando no seio das populações indigenas, e nas camadas escolares destes povos. A articulação entre a OPVCA - milicias locais -, os agentes da DGS, no Uíge, assim como as ligações ao exército instalado em 2 aquartelamentos, no centro e na entrada norte desta cidade angolana, eram desconhecidas de toda a nossa equipa Centro de Cripto. Ou seja: O BC 12, não articulava as suas acções militares com nenhuma outra Força armada, como era esta  sinistra DGS Uíge. Sabíamos ocasioal e particularmente da actividade desta polícia, por diálogos que por vezes tínhamos, quando frequentavamos o restaurante - Pensão Peixoto e outros cafés situados no centro da cidade; e que referiam "Capturas e torturas", realizadas em locais isolados fora desta cidade interior,  muito longe do Oceano Atlantico, e da capital Luanda.

Estas mensgens especiais a que davamos o nome de código de " lírio-roxo" e "passarinho" - conotando a núsica popular alentejana, pela evocação de "às quatro da madrugada", de todas as terças-feira; e até ao dia 25 de Abril de 1974. Estas mensagens continham um segundo código, dentro do código cripto cifrado. Eram todas dirigidas à mesma pessoa, contrariando mesmo normas rigorosas de serviço. A nossa equipa tinha a firme convicção de que algo de extraordinário estava a acontecer e, de certo modo, não constituiu grande surpresa, a mensagem por mim recebida , no dia  Vinte e Cinco de Abril de Mil Novecentos e setenta e quatro, pelas zero oito horas, embora fosse já dirigida ao Comandante deste Batalhão de Infantaria Nr 12, considerado de ocupação regulat clássica deste vasto território do Uíge e parte significativa do Norte de Angola, que se estendia desde o Negage a Maquela do Zombo, na fronteira com o Congo. Sabíamos pois de antemão, mais e melhor do que o Tenente-Coronel Óscar Ferreira, comandante desta unidade; e o alferes deste Centro de Cripto sabia ainda mais do que a nossa equipa, com grande antecedência, daquilo que globalmente se passava em Portugal, relacionado com os golpes dos designados historicamente pelo 16 de Março - acontecido nas Caldas da Rainha, neste ano de 1974; e por dia em que ""os passarinhos foram libertos das gaiolas", leia-se Dia da Liberdade e da Boa-Fé, que se associaram em duas datas-símbolo máximos , na nossa recente História; e para o  evento revolucionário - sem derramento de sangue entre "camaradas de armas " -; e consituindo um notavel triunfo de natureza humanista; e de classe em sociologia castrense; algo surpreendente sobre os quadros militares superiores, dominantes, até então na condução da sinistra e maléfica ditadura do chamado estado novo; e  uma perplexidade bem explítica nos discursos entre  os elementos pertencentes a outras patentes mais baixas, nos grupos de militares e civis contemprâneos; cujo objectivo discreto era o de "des-salarizar " o sistema militar e civil, enquanto formas obsolutas existentes; e em franco declínio bem perceptível "in loco". O nosso orgulhoso  e invulgarmente contente Alferes Figueiredo, exibia uma expressão natural, de forte contágio psicológico de sentido brio pela nobre missão algo secreta que o pilotava e que o diferenciava dos outros oficiais seus conviventes dentro e fora do quartel.  O que sabia , nunca o comentou com a restante equipa Cripto, à excepção da minha pessoa, de quem era, posso afirmá-lo, "amigo confidencial regular", fora e dentro da hierarquia rígida, e fechada, própria do ambiente pesado do quartel BC 12  - Lembro que só o Alferes Figueiredo, tinha acesso ao segundo código, inserido no primeiro código normativo, do conhecimento técnico de quase toda a equipa Cripto; e cujo sistema de cifragem ou decifragem secreta só ele dominava por inteiro. Só quando,  este Alferes tinha dúvidas sobre as cifras, recorria aos meus dotes técnicos para intermediação formal e responsabilização dos operadores de transmissões e o serviço ao qual se destinavam as mensagens, mesmo que, como nesta situção especial , os conteúdos circulassem fora das normas adquiridas na formação no SRT / BRT - Trafaria,  Portugal, situado na margem Sul e mesmo em frente do oceano Atlantico português, no que se refere à hierarquia e à função da ordem (  entrega protocolar directa ao comandante máximo do quartel BC 12, meste caso ); e era quando eu percebia aquilo que, por pura dedução e experência, mesmo paixão, as mensagens continham na sua dupla cifragem; Era também quando  surgiam dúvidas por erros de transmissão de notícias da situação particular a cada dia de trabalho,  de 24 horas sobre 24 horas, sem férias; quer cometidos vulgarmente pelos operadores de serviço no Posto de Transmissões em " morse" ou em linguagem que designavamos de " claro" - que circulava pelos rádios de marca Rakal, fabricados na África do Sul - do "Apartheid"; e só muitos anos decorridos depois, em Fevereiro de 1997, sob a superior direcção política de Nelson Mandela, cuja vida e acção, nem sequer eram sonhados por nós militares do exército português de Portugal continental e insular, passo a descontextualização deste parágrafo - ; ou  também quando surgiam outro tipo de erros mecanicos, resultantes da conversão  de oitenta abcedários que estavam escolpidos - com letras - na face cilindrica das máquinas de cripto do tamanho duma vulgar maquinêta de escrever de cor cinzenta que fazia avançar uma fita estreita de papel em rolo -  mas já com algumas folgas entre carrêtos bem polidos e lisos, por desgaste de utilização contnuada de vários anos - Estas pequenas máquinas de cripto, funcionavam por alinhamento diário de vários carrêtos; e por impulsão manual  com a  mão direita, tendo como origem de fabrico a Alemanha nazi; sendo já usadas, ao que nos constou - e a julgar pelos simbolos gamados que estavam inculcados - durante os anos em que decorreu a segunda-guerra mundial, de má memória. (extracto do livro  inédito: Os Bastidores da Liberdade, da minha exclusiva autoria eresponsabilidade editorial e divulgação pública ainda sem qualquer outra edição, quer em Portugal, quer no estrangeiro).

 

Cada combatente enviado da metrópole, foi obrigado, como eu também fui, a ir combater um "inimigo" desconhecido. Nos dois anos, que estive, sempre no mesmo quartel BC12, no Uíge, norte de Angola, entre 1972 e 22 de Maio de 1974, nunca vi um único "terrorista" , assim designado pela propaganda da ditadura portuguesa. Fomos mentalizados e enganados, a olhar em cada negro, um "terrorista"; quando afinal, eram gente pobre, gente descalça e faminta, espalhada pelas matas, vivendo em cubatas miseráveis. Havia algo de muito errado, nesta região africana. Do outro lado da guerra, estavam guerrilheiros que combatiam pela independência dos seus povos tribais, compostos por diversas étnias. Do lado colonial português combatia-se um "inimigo", que nunca era visto: as operações de reconhecimento consistiam em disparar tiros para as matas, onde se suspeitava existirem guerrilheiros armados. Atingimos a data do dia 25 de Abril de 1974, quando surgiu a grande notícia de que teria havido um golpe militar em Portugal. Estava de serviço nesse dia, dentro do quartel BC12. Ficámos nós os militares entusiasmados e contentes, com esta notícia redentora e plena de justiça, quando pressentíamos que mais nunhum filho nosso, iria estar sujeito ao sacríficio inglório, de nos suceder, no futuro, numa guerra sem causa pessoal ou familiar. Afinal aqueles povos pobres, não eram nem inimigos, nem terroristas, nem adversários. Eram como nós, pobres.Revisitei os meus conhecimentos sobre História de Portugal, e revoltei-me contra o facto de termos sido, colonizados tambem pelos espanhóis, em 1580; que também resolvemos banindo-os, de vez dos destinos dos nossos Povos, de nação valente.

 

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  • Autor: Victor Centúrio Almeida
  • Estado: Venda em Bubok
  • Nº de páginas: 225
  • Tamanho: 170x235
  • Miolo: Preto e branco
  • Paginação: Colado
  • Acabamento da capa: Brilho
  • eBooks vendidos: 1
  • Última atualização: 02/10/2023
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